Uma de nossas principais necessidades como seres humanos é o apoio, o incentivo.
Infelizmente, isso pode não ser tão fácil de se obter.
Por exemplo, a arte na vida das crianças.
Num mundo ideal, seríamos encorajados em direção a arte desde a infância, primeiro por nossa família e depois por círculos cada vez mais amplos de amigos, professores e conhecidos que nos querem bem.
Quando jovens, precisamos e queremos ser valorizados, reconhecidos por nossas tentativas e esforços tanto quanto por nossas realizações e triunfos, mas frequentemente os anseios artísticos das crianças são ignorados ou reprimidos.
Muitas vezes com as melhores intenções, os pais tentam incutir nos filhos uma personalidade diferente, mais “sensata”. “Pare de Sonhar!” é uma expressão bastante comum. “Você nunca será nada na vida se continuar com a cabeça nas nuvens”.
E assim, crianças artistas são instadas a pensar e agir como crianças médicas ou advogadas. Diante de muitos mitos, como por exemplo, do "artista que passa fome", raramente uma família diz para um filho seguir em frente e tentar uma carreira nas artes. Em vez disso, as crianças são no máximo encorajadas a pensar nas artes como um hobby, uma espécie de enfeite que serve apenas para adornar as margens da vida real.
Para muitas famílias, uma carreira nas artes está fora de sua realidade social e econômica:
”A arte não vai pagar a conta de luz”. E assim, jovens artistas podem ser incentivados a enterrar seus talentos.
Futuros escritores podem ser empurrados para serem advogados, uma profissão de muitas palavras, uma criança que nasceu para ser uma contadora de histórias pode se converter numa excelente terapeuta que apenas ouve as histórias dos outros.
Da mesma forma, artistas natos acabam escolhendo "carreiras-sombra" - aquelas próximas à carreira desejada no âmago, ou mesmo paralelas a ela, e assim, muitos que nasceram para escrever romances acabam optando por jornalismo ou publicidade.
Ou seja, sem apoio real para se tornarem artistas, e muitas vezes não sentindo segurança para sequer reconhecerem que têm um sonho artístico, essas se tornam ignorantes quanto à sua verdadeira identidade, incapazes de reconhecer sua criatividade.
É preciso uma enorme força para dizer a pais bem-intencionados mas dominadores - ou aos que são apenas dominadores - “Espere aí ! Isso não é apenas um hobby pra mim, é o que eu mais gosto e quero fazer!” A temida resposta poderia ser: “Como você sabe?”
E, claro, o jovem não sabe. Há apenas um sonho, uma sensação, uma urgência, um desejo. Raramente há uma prova real, mas o sonho continua vivo.
Percamos o medo de estarmos errados, levemos os sonhos e seus sentimentos mais íntimos das crianças a sério. Cuidemos das nossas crianças artistas. A criatividade é lúdica, deixemos-os experimentar, brincar, se descobrir, ir confiante na direção de seus sentimentos e sonhos mais intrínsecos.
Respondamos aos anseios artísticos de nossos filhos com um: “tente para ver no que dá”. Não sejamos intimidados pela cultura atual, pelo que “está na moda”, “o que tem futuro”, “o que dá dinheiro", não tenhamos cautela ou timidez quando o apoio e o incentivo é o mais importante.
O que nós realmente queremos fazer é aquilo que realmente nascemos para fazer. Quando fazemos aquilo que devemos fazer, as portas se abrem, sentimo-nos úteis e nosso trabalho se transforma numa brincadeira divertida.
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